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Por que eu matei o Power Point das minhas aulas?

7 jul 2016

 

Para mim, o Power Point se tornou um inimigo para o professor e, principalmente, para o aluno! Esse é o recado que deixo aqui. Sim, vai ter textão. Senta que lá vem história…

O aluno deixa de prestar atenção na aula, afinal, para a prova ele sabe que tem o famoso PPT do professor para ajuda-lo algumas horas antes, além disso, a concorrência entre aula X Facebook aumenta muito, aluno deixa de lado o que o professor fala para ficar navegando na rede, vendo o que seus amigos estão fazendo enquanto ele está ali “naquela aula chata, com aquele professor mala que não sabe nada”, ele acabou de ler um artigo de um Guru e acha que sabe mais do que todos, mas ele precisa do diploma para o mercado ver que ele é fora de série!

O professor, em muitos casos, tem aquele mesmo PPT de anos e anos que só vai trocando um ou outro slide para a aula. Acaba sendo a mesma aula sempre, com velhos conceitos, velhos exemplos e segue a vida. Já fui assim, confesso. Já fui aluno que deixava de lado a aula, em alguns casos, na minha época não era o celular, mas o caderno abria minha imaginação para cada desenho… já fui esse professor que usou o mesmo material em faculdades diferentes, confesso, mas não sou o único!

Antigamente, meus PPTs tinham 400 a 450 slides. Era uma segurança. Ali tinha material suficiente para eu dar 32h de aula (no Senac por exemplo são 32h de aula em uma das matérias que ministro por lá). Se a aula era de 20, 16h ou 8h eu diminuía alguns slides, tira um case e pronto. Quantas vezes não “montei a aula” 5 minutos antes de começar?? Sabendo que aluno sempre chega atrasado e que a aula nunca começa no horário, eu me programava para chegar 10 minutos antes, assim teria pelo menos 30 minutos para mexer no que era necessário. Para o aluno, antes de entrar em sala há sempre o trânsito, o elevador, a parada na lanchonete, o último cigarro ou aquele recado urgente a ser dado. Aluno em sala de aula, na hora, é raro.

Diante a esse cenário, me colocava em total zona de conforto. De 2008 a 2012 isso funcionou muito bem. A maioria dos alunos sempre elogiava a aula, os coordenadores diziam que a minha aula estava sempre entre as
mais elogiadas, faculdades onde eu ia dar uma aula ou substituir um professor me convidavam para outras aulas. E isso me deixou ainda mais na zona de conforto, até que em 2012 eu fui dar aula para uma turma no MBA de Marketing Digital da Faculdade Impacta e…



Alunos que trabalhavam com planejamento dizendo não ter visto nada demais, com o tempo você consegue entender e passar ao aluno que a aula muitas vezes é para quem não atua na área específica, isso pode até
parecer desculpa, mas acreditem, é a realidade. Alunos dizendo que esperavam muito mais, alunos dizendo que a expectativa era alta para a entrega baixa. De repente, o cenário virou e eu tive uma aprovação de 20% – se muito – da sala de aula. Para mim, foi o melhor dos feedbacks até hoje, que fique mais do que registrado! O ser humano, vaidoso, adora um elogio e eu não fujo a regra, mas aprende, de verdade, com a crítica.

Minha última aula para essa turma havia sido no sábado, e na 2a feira seguinte essa bomba caiu no meu colo. Um e-mail de uma aluna, que resolveu, em nome da sala, me passar esse feedback. Esse foi um dos e-mails mais importantes que recebi na vida. No outro sábado, fui na sala conversar e não apenas pedir desculpas, como agradecer. A sala até ficou chateada achando que pegaram pesado, mas agradeci. A aluna me mandou e-mail na sequencia pedindo desculpas e agradecendo por eu não ter, em momento algum, exposto o seu nome. A vida nos ensina, sempre.

Cerca de 15 minutos de conversa e eu já corri para minha casa e naquele final de semana eu mudei toda a minha aula para algo muito mais prático, uma vez que a crítica maior foi não ter prática. Entendi nesse momento que o aluno não quer passar um sábado inteiro só ouvindo. Ele precisa interagir. Aprendemos mais quando interagimos. Já tinha ouvido isso de algumas pessoas, resolvi então colocar em prática. Interação, conversa, troca de experiências. Seriam (e até hoje são) esses os pilares da aula.

Refiz todos os slides, um a um, mudei tudo. A metodologia não, essa mantive fiel pois é a forma com a qual eu trabalho desde 2004. Ela muda em alguns pontos, mas não na sua essência. A abordagem em sala, a forma de passar, a forma de estimular, isso sim mudou muito. Aprendi que pode se contar a mesma história de diversas formas e isso influencia muito como as pessoas recebem a mensagem. Estudei ainda mais como dar uma boa aula, fui assistir a cursos com dois focos: aprender o tema e aprender a didática. Peguei o jeito de um, a forma de abordar de outro, a entonação da voz de outro.

Conversei com amigos. Marcelo Miyashita, meu amigo e um dos coordenadores que eu tenho em uma das escolas que dou aula, ficava maluco ao ver que no seu curso, a minha aula de 4 horas tinha 140 slides, enquanto dos outros professores não passava de 40. Ele mesmo dava aula de 20h com 40 slides, sendo a maioria deles sem uma única palavra. Entendi que o professor bom – e o Miyashita é fera – é aquele que conhece e passa e não aquele que lê o PPT e que o PPT se torna uma muleta perigosa na aula, te coloca em uma zona de conforto perigosa.

Pegando alguns pontos de diversas e importantes fontes, como um ator constrói seu personagem, eu construí o meu: o professor Felipe Morais, que basicamente deveria mesclar quem eu sou no dia a dia com um pouco dos professores e mestres que tive ao longo da vida, meu repertório.

Agora, era preciso mudar toda a metodologia de aula. Essa é uma eterna evolução, provavelmente a minha aula daqui 5 anos seja muito diferente da que dou hoje, afinal, ela já é muito diferente de 5 anos atrás, entretanto, no momento é o que eu acho a mais interessante, mas até o momento eu ainda não matei 100% do PPT, mas existe essa meta para o próximo ano.

Por mais que eu tenha feito o PPT com meu conhecimento e usando recursos de livros e sites, para o aluno aquilo pode, em muitos casos, parecer um “catadão” de teorias de diversos livros e sites. Por mais que eu saiba que aluno não lê, por mais que eu saiba que se eu pegar um livro qualquer de marketing e copiar inteiro para dar aula, 2% dos alunos vão descobrir, eu precisava mudar isso, precisava mostrar que o conhecimento não era o PPT e sim a minha experiência de vida profissional, meus estudos, as palestras que fui e até mesmo as conversas que tive com profissionais feras os quais destaco: Gustavo Zanotto, Rodrigo Gadelha, Paulo Schiavon, Denilson Novelli, Marcos Hiller, Marcelo Trevisani, Victor Vieira, Leandro Ogalha, Conrado Vaz, Rafael Rez, José Rubens, Daniel Bento, Solange Oliveira, Thiago Sarraf, Roberto Shinyashiki, Rodrigo Lacsko, Flávio Zeinum e Thiago Borges, caras que eu aprendo a cada dia. Referências que carinhosamente eu chamo de “Referências 4Ps”: pessoas, profissionais, palestrantes e professores.

A vida nos dá provas. Certa vez, em uma aula de E-commerce no Senac, ao passar o primeiro slide, começou uma chuva de perguntas. Na época, eu era gerente de e-commerce da Giuliana Flores e o pessoal queria saber mais de prática. Foram quase 4h (nesse dia a aula começou as 19h e acabou as 22h50, sim, alunos ficaram além do tempo, apenas 1 foi embora por causa do seu ônibus) eu sentado na mesa contando histórias, sem PPT, sem nenhum recurso. Isso me deu muita confiança.

Em outro caso, em Campinas, o projetor não ligava e o notebook ficava longe para ir consultando, então, eu ia mudando o slide de longe, via a imagem e ia passando os conceitos, no “gogó” mesmo. Depois ainda brincaram “quem sabe faz ao vivo” isso me deu uma relação ótima com a sala, que mesmo anos depois de terem se formados ainda mantenho contato com muitos. Isso deu ainda mais confiança e me tirou da zona de conforto, agora, eu precisava estudar e me dedicar mais para dar aulas sem PPT. Um professor, Daniel Barbarini, me mostrou sua aula com 40 slides só de imagens. Se esse não tem conteúdo, como passar 20h de aula de Branding? Aula sensacional, pelo o que me disseram.

Uma coisa que mudei radicalmente, minha aula hoje e 40% de teoria e 60% de prática. Espero, em breve, ter 80% de prática. A teoria é importante, mas tem livros e mais livros para tal. Eu mesmo, tenho um livro de planejamento estratégico digital, o qual passo a teoria. Esse é o tema que mais dou aula e palestras hoje, claro, por causa do livro, uma coisa liga a outra. Nunca obrigo alunos a comprar o livro, eu indico esse e mais uns 5 ou 6, mas a teoria está ali. Na aula, eu coloco a prática, quem não gosta muito são os alunos que pedem para colocar o nome nos trabalhos, pois dessa forma, eles são obrigados a fazer algo!

Na Impacta, por exemplo, a minha aula ainda usa o bom e velho PPT com 300 slides. Muitos vídeos acredito que deixa a aula mais interessante (vídeos curtos, de máximo 5 min, por favor), mas em breve esse PPT será reduzido. Na Impacta também não há lousa, o que me remete a usar o PPT mais do que deveria.

Penso em breve ter um roteiro em forma de e-book. Ao final do curso mando aos alunos, é a teoria ali que vão revisar depois da prática em sala de aula. Essa prática, por exemplo, reduziu – e muito – o uso do celular durante as aulas, a saída dos alunos mais cedo e os elogios aumentaram em relação a minha aula. Isso é o que realmente compensa.

Na FMU, há lousa e giz. Ali eu me divirto! Preparo em uma folha de papel os pontos. Chego na aula, passo um a um. Matar o PPT não significou que a aula sai de qualquer jeito, que chego e falo qualquer coisa. Não. Há um
roteiro. No 1o dia de aula eu passei – regra da FMU que eu achei excelente – os temas abordados a cada aula. Os alunos sabem no 1o minuto da aula tudo o que será dado em 80h de curso. Há um roteiro pronto. Em cada dia, há um tema. Em cada aula, eu preparo um roteiro específico daquela aula. Chego na sala, desenho na lousa, debato e exercício. Próximo tema, mesmo esquema e assim vai sendo construída a aula. Isso me dá liberdade para sentir a sala, pegando mais ou menos pesado.

Recentemente eu precisei “matar” uma aula para explicar mais profundamente conceitos que na aula anterior gerou dúvidas. Pedi para os alunos pesquisarem sobre o tema, afinal, eu não sou o dono da verdade e mesmo assim dúvidas. Sem problema, na aula, outras abordagens, outras explicações. Ser “pego de surpresa” assim, se você está preparado, mostra ao aluno que você conhece muito do tema, mas para conhecer muito do tema, recomendo ler diariamente livros, sites e jornais. Sai da zona de conforto do PPT. Isso me deixa feliz.

Conhecimento é sempre válido para a vida, acadêmica ou profissional. Voltamos a discutir, trouxe temas do dia a dia, casos pessoais. Contar histórias ajuda a reter a atenção, o livro de Carmine Gallo sobre o TED ensina isso, o meu grande mestre Roberto Shinyashiki me disse isso algumas vezes. Uso em sala. E uma boa história não é contada com o PPT, concordam?

Se 32h eu montava 450 slides, imagina para 80h. Seriam quase 1.000 slides!!! Mas graças a Deus, sai da zona de conforto e na FMU nem o projetor eu ligo. Os alunos estão adorando isso, a aula fica menos cansativa, mais dinâmica e aprendem mais. Discutimos. Faço-os pensar, analisar, questionar. Minha aula jamais será a “decoreba” que aprendemos na escola com teoremas, fórmulas e tabelas que nunca mais usamos. Aqui, em sala, o aluno tem que sair da sala e usar o que aprendeu no dia seguinte no trabalho, o que eu passo tem que ajudar eles a fazer algo melhor, assim como o que eu sei me ajuda a sempre evoluir profissionalmente.

O tempo não passa, ele voa dessa forma, não que eu deseje que a aula acabe logo, mas por que quando algo é bom, nem sentimos o tempo passar e é isso que eu desejo que os meus alunos sintam na sala de aula.  As aulas
de 6a noite, por exemplo, que é o mais crítico em qualquer faculdade, comigo, estão sempre cheias. Professores sabem que esse é um índice altíssimo de aprovação da sala (risos).

Faço a agenda da aula, passo o ponto e depois é exercício. Marketing aprende-se na prática. Exercício e discussão ponto a ponto. Passo meu ponto de vista, sou crítico, faço-os pensar. Me vem com uma ideia eu jogo
outra. Me vem com um público falo de outro, me vem com um posicionamento eu questiono. Faço o papel do diretor de marketing da empresa que quer menos ideia legal e mais resultados. Trago a realidade para dentro da sala, até os briefs que uso, normalmente são os que eu já tive que resolver, não porque quero roubar ideias, mas porque tento ao máximo passar a realidade do mercado em sala. E isso o PPT não traz, tendo muito ou pouco texto, ele não traz!

Deixar o PPT de lado me tirou da zona de conforto. E isso foi ótimo!

 

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